I’m
thrilled again to have a Portuguese translation of my review of Raul Ruiz’s The
Mysteries of Lisbon (the full miniseries version), courtesy of Angelica
Sakurada. Ruiz was a Chilean expat, who worked extensively in Portugal. Many of
his cast-members have also frequently appeared on Brazilian television, so it
is definitely a production with international appeal. (You can find my original
here.)
Na
sociedade elegante portuguesa do século XVIII, todos eram ou parentes
distantes, amantes ardentes, ou rivais jurados, por vezes até dois dos três.
Todos que eram alguém terão os seus próprios flashbacks, pelo menos um para
cada uma das suas antigas identidades. Este é um conto épico de paixão,
escândalo, e retiro para ordens religiosas que deve soar familiar. Oito anos após
o lançamento do filme teatral de quatro horas e meia, a minissérie de televisão
com seis horas de Raul Ruiz, Os Mistérios
de Lisboa, foi lançado virtualmente nesta sexta-feira em Nova Iorque.
Apesar
de terem sido produzidas ao mesmo tempo, as cenas do filme e da televisão foram
concebidas para serem bem diferentes e consistentes uma com o outra. Ambos
possuem cenas que são exclusivas a eles. Foi anunciado que Raul Ruiz também
alterou a sua proposta de narrativa. Faz já um certo tempo desde que eu cobri o
filme original, mas segundo a minha memória, os personagens tinham seus
retornos surpresas que são melhores estabelecidos na série televisiva (ainda
que esse tenha sido o charme do filme).
De
qualquer modo, ainda há bastante charme nas cenas das seis horas, que explora
mais completamente a profundidade das emoções fortes sentidas pelos personagens
(eu acho). Independente disso, é muito fácil ser envolvido novamente nas suas
agonias e êxtases (de novo), especialmente se já fizer anos desde que você
tenha assistido a outra encarnação, ou se você nunca teve o prazer de assistir.
Ostensivamente,
Pedro da Silva é o herói de Mistérios de
Lisboa e é o narrador da história. Quando nós o conhecemos pela primeira
vez, ele é um órfão triste conhecido somente como “João”. Entretanto, ele vai
ser ofuscado enormemente por dois homens misteriosos, que vão determinar
diretamente o seu destino. Um é o virtuoso Padre Diniz, que seve como o
protetor do João jovem e vai ser um personagem decisivo defendendo a honra de
sua mãe que ele nunca conheceu, Ângela de Lima, a esposa do abusivo Conde de
Santa Bárbara. O outro é o Alberto de Magalhães, um mercador brasileiro (pirata
talvez seja o mais exato), ou pelo menos é como ele se autodenomina agora.
Passarão anos até que Pedro da Silva o encontre cara-a-cara, mas o aventureiro
picareta forjará uma aliança informal não muito usual com Padre Diniz.
Tenho
que admitir que existem uma série de fatores de coincidências nas ambas versões
de Mistérios de Lisboa, mas é de se
esperar de qualquer coisa que seja baseada em uma novela grandiosa do século
XIX. Realmente, é destes cruzamentos do destino que surge a diversão de
assistir a história. Tudo é conectado e o carma faz jus a sua reputação, de
modo gloriosamente trágico.
Ambos
Mistérios de Lisboa também parecem
pinturas à óleo que podiam ter sido produzidas por uma das academias de arte da
época. A composição visual de Raul Ruiz por muitas vezes oferece perspectivas
inteligentes da hierarquia social daqueles tempos e da dinâmica de poderes na
sua narrativa (empregados sempre espionando). Esta é uma produção bem ricas em
detalhes de época, mas Raul Ruiz produz com uma sensibilidade pós-moderna. Seu
padrão de utilizar teatro de fantoches para literalmente definir os momentos de
transição é provavelmente mais proeminente no filme, mas ainda está presente na
minissérie.
A
interpretação de Adriano Luiz como o bom Padre Diniz permanece bem sólida, a
âncora humanística de toda a série. Controverso, Ricardo Pereira ganha mais em
presença e tempo de cena com sua performance explosiva mas carismática como o
ganancioso Alberto de Magalhães (ou quem quer que seja). De qualquer modo,
Maria João Bastos (uma atriz portuguesa bastante conhecida também no Brasil
pelas novelas O Clone e a série O Mecanismo) permanece com uma presença
digna e triste como a mãe de Pedro da Silva sofredora a vida toda.
Ironicamente, Pedro da Silva, durante toda o seu estágio de amadurecimento, é a
figura menos interessante de todos os personagens da série, em comparação ao
que ele era no filme.