Thursday, March 05, 2020

Bacurau: Não indicado pelo Brasil


If only this film were as good as Angelica Sakurada’s translation. Once again, she has volunteered a Portuguese translation of my Bacurau review as a service to expats and Brazilian readers (original here).

O nordeste brasileiro é uma região sofrida, com uma história de insurreição armada. Se um grupo de elite de caçadores do estilo “Zaroff, O Caçador de Vidas” (Most Dangerous Game) estiver vasculhando o território, eles provavelmente passariam direto por essa região equatorial selvagem. Claro, que o conceito integral de pessoas caçando pessoas já é um clichê barato que vem sendo reciclado constantemente, embora o filme O Alvo (Hard Target) já tenha estabelecido o padrão do conceito no início dos anos 90. Deste vez, os co-diretores-roteiristas Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles tentam reinventar o artifício para retratar ângulos políticos e ideológicos em Bacurau, que estreia nesta sexta-feira em Nova Iorque.

Theresa regressou à Bacurau para o enterro de sua avó, mas decide ficar mais alguns dias para se reconectar com uma antiga paixão, Pacote, uma ex-atirador conhecido, com toda uma fama no YouTube contando as mortes atribuídas a ele. Sinceramente, não é ele que os gringos invasores deveriam temer no local.

Liderado por um misterioso alemão conhecido como Michael, os caçadores gringos (e seus dois cúmplices de São Paulo) conseguiram bloquear todo o sinal GPS e remover a cidadezinha do mapa do Google. A ideia é lentamente ir eliminando os locais um a um. Entretanto, como bons descendentes de rebeldes da tradição de Lampião, os residentes de Bacurau tem habilidades de sobrevivência no seu DNA.


Bacurau
é um pecado da junção do cinema arte e filme de exploração que falha em satisfazer ambos públicos. O filme demora para engrenar, mas pelo menos as belas cenas do enterro ajudam a apresentar a comunidade local e seu lugar no ecossistema brasileiro. Entretanto, quando os gringos aparecem, o filme se reduz a um aspirante a suspense-retrô sórdido, mas os forasteiros são tão dramaticamente ultrapassado, que não existe nenhum suspense sobre os acontecimentos. Ao invés disso, o público vai ficar olhando o celular, esperando pelo final inevitável para finalmente concluir.

O foco principal de Bacurau é retratar o contraste dos que tem versus dos que não tem e de americanos versus país em desenvolvimento de uma maneira visceralmente bruta. Caracterização é uma prioridade distante de Filho e Dorneles e isso fica evidente. Provavelmente o único personagem com alguma dimensão definida é Domingas, a médica amargurada da cidade, que tem um relacionamento problemático com sua parceira (vivida por Sônia Braga de maneira bem discreta e intrigante). Naturalmente, os gringos são de um estereotipo mais amplo possível. Infelizmente, isso inclui Michael, vivido pelo ótimo Udo Kier, que tenta tirar das cenas o melhor que ele pode, mas Filho e Dornelles nunca dão a ele o espaço ideal para ele liberar o seu lado vilão.

Por um momento, Bacurau foi considerado a escolha oficial do Brasil para a indicação ao Oscar, mas a comissão inteligentemente escolheu A Vida Invisível de Karim Aïnouz no lugar. É difícil perceber qual o público alvo de Bacurau, além dos fiéis esquerdista que vão exaltar sem críticas qualquer coisa que retrate a sua luta de classe e seu preconceito anti-americano. Não recomendado, Bacurau estreia nesta sexta (6 de março) em Nova Iorque, no IFC Center.