Vocês se lembram
quando os personagens de CSI: Miami costumavam
falar sobre escutar as estórias que cada cadáver tinha para contar? O Stênio
faz isso literalmente. Ele pode se comunicar com o cadáver fresco, como uma pessoa
que conversa com cadáveres. Infelizmente, quando ele abusa desse poder, isso acaba
levando a todo um problema sobrenatural enorme no filme Morto Não Fala de Dennison Ramalho, que estreia dia 10 de Outubro
no Brasil (lançando on-demand nos Estados Unidos).
Stênio trabalha a
noite lavando corpos no IML, e volta para casa para encontrar sua mulher infiel
Odete e que nem liga pra ele. Seu filho mal educado também não está nem aí pra
ele. Somente sua filha Ciça de uns oito anos fica sempre feliz em vê-lo.
Felizmente, ele tem um monte de pessoas mortas para conversar.
Obviamente, Stênio tem uma vantagem em relação à identificar corpos e determinar a
causa da morte. Ele é sempre respeitoso com a maneira que usa sua habilidade
nada normal de comunicação, até o dia fatídico em que ele descobre a traição da
Odete com o vizinho rival. Utilizando-se de informação privilegiada
confidenciada por um traficante favelado morto, Stênio convence o irmão do
favelado que o amante da Odete foi o responsável pela morte do traficante.
Entretanto, seus planos saem pela culatra quando o bando de traficantes acaba
matando também a Odete. Ela fica possessa com o seu assassinato, como ela
explica para o Stênio de maneira bem direta. De fato, ela vai assombrar o
assistente de legista pacato, possivelmente se vingando através de seus filhos.
A adaptação do
texto de Marco de Castro por Ramalho e a co-redatora Claudia Jovin é sombria e
melancólica, com um estilo não diferente de outros filmes de terror brasileiros
lançados recentemente, como A Sombra do Pai e Trabalhar Cansa, mas Morto Não Fala mostra o gênero de modo
mais direto e energético. Há alguns elemento de O Grito (The Grudge) e O
Sexto Sentido (The Sixth Sense) aqui, mas os detalhes da periferia de São
Paulo diferencia este filme de outros similares do gênero. Ironicamente,
algumas cenas grotescas do filme não vem do próprio terror em si, mas sim do
trabalho diário do Stênio no necrotério.
A atuação do Daniel de Oliveira como Stênio é extremamente quieta, mas ele faz um trabalho convincente
quando se transforma de extremo depressivo para uma psicose alucinante. Como
Odete, Fabiula Nascimento se transforma similarmente de não-tão-passiva
agressiva para uma raiva espetacularmente descontrolada. Ela e Ramalho levam o
filme para uma direção estilo Medéia
e nos faz acreditar nele.