Abe: Seu Jorge cozinha
Se existisse mais cozinha fusion na Conferência de Taba, talvez existisse paz no Oriente Médio. Ou talvez não. Um chefe novato de treze anos tenta aproximar a sua família uma mistura de Israel e Palestina por meio da comida, mas as divergências deles podem ser muito grandes para os seus esforços culinários sanar, apesar da ajuda vinda do Brasil no filme Abe de Fernando Grostein Andrade, que recentemente foi lançado em VOD (video on demand) após o lançamento no Festival de Sundance de 2019.
Abe prefere ser chamado de “Abe”, mas sua família o chama de Abraham, Avraham, Avi ou Ibrahim, depende de qual lado da família está falado. Sua mãe e os pais dela são judeus de Israel, seus avós paternos são muçulmanos da Palestina, e seu pai é um ateu convicto. Como você pode imaginar, os encontros familiares são sempre difíceis. Francamente, eles batem boca tanto, que nunca chegam a apreciar a comida de Abe.
Para um garoto de treze anos, Abe é bom com a culinária básica (ou ele acha que é), mas ele precisa de um pouco de coaching para desenvolver criações mais ambiciosas. Chico Catuaba é o tipo de chefe que ele tem em mente como mentor. O baiano já teve seu próprio restaurante no passado, mas agora vende no bairro do Brooklyn a sua culinária exclusiva fusion brasileira-jamaicana que ele prepara em sua cozinha improvisada. Inicialmente, Chico Catuaba fica com um pé atrás em relação a Abe e com receio de problemas potenciais legais de exploração de menores que Abe pode trazer, mas a sinceridade do garoto acaba o convencendo. Entretanto, Chico Catuaba faz questão que Abe cumpra sua parte primeiro, antes de dar-lhe responsabilidades reais na cozinha.
O filme de Fernando Andrade destaca uma trilha sonora brasileira gostosa e cheia de energia, trazendo o co-protagonista Seu Jorge em duas canções (“Imigrantes” e “Meia Lua Inteira” de Caetano Veloso), Tulipa Ruiz com “Sal e Amor”, e o supervisor musical Jacques Morelenbaum com arranjos solos de violoncelo em “Brigas Nunca Mais” e “Samba de Uma Nota Só”. O som é ótimo e a comida parece deliciosa, então é fácil perdoar o aspecto previsível do roteiro de Lameece Issaq e Jacob Kader. De fato, Fernando Andrade executa de maneira leve o conto culinário em que o garoto vai crescendo, abafando os clichês óbvios e os potenciais desconfortos políticos ao máximo possível. Ao invés disso, ele foca na diversidade e carisma do conjunto dos personagens.
Noah Schnapp de Stranger Things é convincente e cheio de
energia como Abe. Entretanto, o perfeitamente escalado Seu Jorge frequentemente
rouba a cena como Chico Catuaba. Qualquer um que tenha visto ele atuar sabe que
ele tem muito carisma e uma voz que pode roubar o trabalho de James Earl Jones,
mas ele também maneja uma faca de cozinha com autoridade. Como os pais de Abe, Dagmara
Dominczyk e Arian Moayed também são convincentes como um casal amoroso, cujo
relacionamento passa por um momento de crise. Como bônus, o grande ator Mark
Margolis adiciona um certo carisma como o avô judeu de Abe, Benjamim.
Abe é um filme de família muito legal com uma ótima trilha sonora. O conceito de abordar o conflito do Oriente Médio por meio do microcosmo de uma família do Brooklyn pode soar legal demais, mas Fernando Andrade consegue fazer isso funcionar sem forçar demais. Recomendado para fās de filmes de comida e Seu Jorge, Abe já está disponível nas plataformas de VOD, distribuído pela Blue Fox Entertainment.
Abe é um filme de família muito legal com uma ótima trilha sonora. O conceito de abordar o conflito do Oriente Médio por meio do microcosmo de uma família do Brooklyn pode soar legal demais, mas Fernando Andrade consegue fazer isso funcionar sem forçar demais. Recomendado para fās de filmes de comida e Seu Jorge, Abe já está disponível nas plataformas de VOD, distribuído pela Blue Fox Entertainment.